Sou Vilmar Francisco de Oliveira.
Autista. Músico. Servidor público. Escrevo também, com o que sinto, mais do que com o que digo.
Sou formado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina. Desde 2012, trabalho como Técnico de Gestão Pública na Prefeitura de Londrina. Ao longo dos anos, fui acumulando títulos de pós graduação em Gestão Hospitalar, Serviços de Saúde, Direito Administrativo e Sociologia. Mas, acima de tudo, sigo estudando em silêncio, como quem aprende não apenas com livros, mas com o jeito de estar no mundo.
Recebi meu diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (Síndrome de Asperger) em 2017, já adulto. Passei uma vida inteira tentando me adaptar a um mundo barulhento demais para mim. Quando o diagnóstico veio, não foi um susto, foi um alívio. Finalmente, muita coisa fez sentido.
A infância no silêncio
Desde pequeno, o mundo me parecia grande demais, intenso demais, rápido demais. Sempre gostei de estar sozinho. Não porque eu não quisesse companhia, mas porque o barulho das palavras, os olhares diretos, as interações forçadas… tudo me cansava. Tudo me confundia.
Enquanto os outros brincavam, corriam e falavam alto, eu me refugiava nos sons que não gritavam: o dedilhar de um instrumento, um traço no papel, o silêncio da observação. Sentia muito, mas expressava pouco. E isso me fez crescer com a sensação de que havia algo errado comigo.
As pausas que me ensinaram
Depois de formado, tentei outros caminhos: entrei em cursos de Matemática, Ciências Contábeis, Serviço Social, Arquivologia... e saí de todos. Na época, achei que era uma fraqueza minha. Hoje, entendo que era apenas o meu jeito tentando se encontrar em espaços que não foram feitos para mim.
As salas lotadas, as exigências sociais, a cobrança por desempenho imediato, tudo isso me sufocava. Não era preguiça. Era exaustão.
A descoberta que mudou tudo
Quando soube que era autista, algo em mim se aquietou. Passei a me reconhecer, a me entender, a me perdoar. Descobri que não era estranho, era apenas diferente. E, muitas vezes, ser diferente também significa ser mais atento, mais profundo, mais sensível.
Comecei um processo de cuidado: medicação, terapia, apoio da minha família. Mas, principalmente, comecei a me escutar com mais paciência. E foi aí que descobri que nunca estive realmente sozinho.
A música e o amor me salvaram
A música sempre foi meu refúgio. Desde a adolescência, o saxofone e o violão me acompanham. Quando toco, não preciso explicar nada. Não preciso fingir. A música me entende.
E minha esposa, que é professora e companheira de todos os dias, foi quem me ajudou a atravessar muitos silêncios. Com ela, aprendi que posso existir no mundo com meu próprio ritmo. Que o amor também sabe esperar.
Por que escrevo?
Escrevo porque nem sempre sei falar. E porque, quando escrevo, tudo ganha forma.
Criei este blog para compartilhar o que muitas vezes fica guardado. Quero que pessoas que, como eu, se sentem deslocadas, saibam que não estão sozinhas. E quero que professores, profissionais e familiares olhem com mais ternura para quem se cala, porque o silêncio também fala. E, às vezes, grita.
Não sou especialista em autismo. Sou especialista em mim mesmo.
Aqui, divido minha história, minha rotina, minhas dores, minhas descobertas. Porque, apesar do mundo ser barulhento, dentro de mim existe um universo inteiro, e é isso que você encontra aqui.
Com carinho,
Vilmar Francisco de Oliveira
Autista. Músico. Servidor público.
E autor do blog Mundo Atípico de Vilmar.
Escrevo como quem vive intensamente, mesmo quando vive quieto.
E quando coloco as palavras no papel... é com tudo o que sou.
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