Supermercado, ruído e ansiedade: minha experiência como autista

Quando uma simples ida ao mercado vira um desafio invisível

Ir ao supermercado pode parecer um detalhe trivial no cotidiano da maioria das pessoas. Mas para quem está no espectro autista, como eu, essa experiência pode se transformar num verdadeiro campo minado sensorial.

Hoje compartilho uma vivência recente, simples, cotidiana, mas que me desorganizou por dentro e me fez refletir sobre algo que ainda é pouco compreendido: a sobrecarga sensorial.

O cenário do caos

Fui comprar apenas algumas coisas. Ao entrar naquele lugar, senti que havia entrado num outro mundo: pessoas pra todo lugar, cheiros conflitantes, apitos de empilhadeira, caixas conversando alto, carrinhos colidindo, música ambiente tocando, vozes, passos, tudo misturado.

Minha cabeça começou a latejar. Era como se todos os sentidos estivessem gritando ao mesmo tempo. Eu só queria pegar os produtos, mas minha mente já estava em alerta máximo. Tentei fingir que estava tudo bem, afinal, "é só um mercado", diriam os neurotípicos.

Mas o que eles não veem é que, por dentro, já estamos lutando para não desabar.

A gota que transbordou

Um som seco, um freezer abrindo com estrondo, fez meu ouvido reagir com dor. Era como se algo tivesse perfurado meu equilíbrio interno. Suor. Tremor. Aperto no peito. Confusão.

Peguei os itens o mais rápido que pude. Cheguei ao caixa. Sorri mecanicamente. Paguei. Saí. E no caminho de volta, senti alívio por ter terminado.

O que aprendi com isso

Percebi que meus limites são reais, e tudo bem.

Que eu posso me preparar melhor: fones com cancelamento de ruído, óculos escuros, uma lista escrita, horários mais calmos, ou mesmo pedir ajuda.

Viver com autismo é como andar com todos os sentidos expostos, sem armadura. Cada saída de casa é uma batalha que não se vê, mas que deixa marcas. Não quero mais esconder isso. Falar também é uma forma de cuidar.

Se você também sente isso, saiba: não é frescura. Não é exagero. É autismo. E você não está sozinho.


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Por Vilmar Francisco de Oliveira

Autista, músico, servidor público, escritor sensível e criador do blog Mundo Atípico T.E.A.







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