Diagnóstico tardio de autismo: quando o silêncio ganha nome

Fui diagnosticado com autismo aos 40 anos. Antes disso, ninguém nunca falou em autismo pra mim. Desde criança, me viam como estranho, quieto, tímido demais. E ficou por isso mesmo.

Só descobri o diagnóstico porque tive uma crise de ansiedade. Fui parar no consultório da Dra. Michele, psiquiatra. Eu procurava ajuda por causa de uma sobrecarga. Tinha muita coisa acontecendo ao mesmo tempo:

  • minha esposa perdeu uma gravidez,
  • meu pai teve um princípio de infarto,
  • tive uma queda chegando no trabalho,
  • o trabalho estava sufocando.

Não aguentei. Desabei. Fui buscar ajuda.

A doutora não me deu um laudo logo de cara. Foram meses de acompanhamento. Um dia, ela me disse que meus comportamentos batiam com o que se conhecia como Síndrome de Asperger. Fiz avaliação. Confirmou: autismo nível 1, sem deficiência intelectual.

Foi um choque e, ao mesmo tempo, um alívio. As peças começaram a se encaixar. Tudo aquilo que eu não entendia em mim passou a fazer sentido: o incômodo com barulho, a dificuldade em interações sociais, o jeito obsessivo de pensar, a rigidez com rotinas, o isolamento.

A verdade é simples: meu autismo sempre esteve ali

Ninguém percebeu porque eu falava, estudava, trabalhava. Não batia no estereótipo de autismo que a sociedade conhece.

Por isso, passei a vida sem diagnóstico. Isso não é raro. Acontece com muita gente.

O mundo só enxerga o autismo quando ele grita. O meu era silencioso.

Uma visão sociológica

A sociedade construiu uma imagem limitada do que é ser autista. Só reconhece os casos visíveis.

Os que falam pouco, que balançam as mãos, que têm crises públicas.

Os que funcionam “bem demais” viram apenas os esquisitos, antissociais, difíceis.

Por muito tempo, foi assim comigo.

Meu diagnóstico só veio quando o sofrimento bateu no limite. E isso mostra o quanto ainda estamos atrasados.

O diagnóstico não mudou quem eu sou. Só me explicou.

Hoje sei que não sou preguiçoso, insensível ou fraco. Sou autista. E isso não é um defeito. É só um jeito diferente de funcionar.

O diagnóstico me ajudou a parar de me culpar por coisas que eu não entendia. Me deu clareza. Me deu um nome.

Não sou um caso isolado. Muitos adultos autistas ainda vivem no escuro, sem saber. Se você se identificou com esse texto, procure ajuda. Pode ser que você também esteja no espectro.

Autismo não é moda. Não é desculpa. É realidade. E quanto mais cedo a gente entende, melhor consegue viver.

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Por Vilmar Francisco de Oliveira


Trabalho sufocante

Trabalho sufocante





Comentários

  1. Vilmar sempre admirei seu jeito e sua maneira de encarar o autismo. Estou gostando muito do conteúdo e da maneira como vc escreve. parabéns. Rô

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