O Convite de Jesus Cristo

Desde criança, cresci dentro da igreja. Sou filho de pastor evangélico pentecostal. Conheci a Bíblia antes mesmo de saber dar nome aos meus sentimentos. Vi minha mãe, mulher de oração, e meu pai, pastor de alma simples, mas fé intensa, conduzirem uma igreja com amor e entrega.

Fui crescendo entre cultos, louvores, ensaios e orações. Mas, mesmo nesse ambiente de fé, havia algo dentro de mim que me fazia sentir... diferente.

Não gostava das rodas de conversa. Me confundia com as brincadeiras. Me assustava com os barulhos altos. Quando alguém me puxava para interagir, eu travava. E quando tentava entrar nas conversas, era como se eu estivesse em outra frequência. Sorria por fora. Mas por dentro, eu me sentia deslocado.

Me chamaram de "tímido".

E com isso, veio uma interpretação equivocada. Um versículo que muitos usavam como condenação:

“Mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos… a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre...”
(Apocalipse 21:8)

Essa palavra me marcou por muito tempo como uma ferida. Parecia que meu jeito era pecado. Que meu silêncio era rebeldia. Que minha introversão era falta de fé.

Mas eu não era tímido.

Eu era autista.

Levei décadas para descobrir. O que chamavam de “jeito fechado” era, na verdade, uma condição neurológica: a Síndrome de Asperger, uma forma de autismo. Isso não é uma falha. É uma forma diferente de ser, sentir, perceber, viver.

Deus me fez assim. E Ele não erra.

Jesus nunca condenaria um autista.
Ele me conhece no íntimo, antes mesmo que eu soubesse quem sou:

Antes que te formasse no ventre, te conheci; e, antes que saísses da madre, te santifiquei.”
(Jeremias 1:5)

Jesus entende meu silêncio. Ele entende quando eu fico em um canto da igreja, apenas ouvindo. Ele vê quando meu louvor sai em forma de música, e não de palavras.

O Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração.
(1 Samuel 16:7)

Por muito tempo, tentei me encaixar. Me tornei diácono. Toquei violão, saxofone, cantei em grupos. Fiz tudo com amor. Mas também me esgotei. Meu cérebro ficava sobrecarregado, meu corpo cansado. Eu não sabia que estava forçando limites que outras pessoas nem percebiam.
Mas Deus sabia.

E mesmo assim, Ele me chamou.

Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso.
(Mateus 11:28)

Eu fui.
Mesmo autista. Mesmo sensível. Mesmo sem entender as entrelinhas sociais.

Fui do meu jeito.
E Ele me aceitou.

Com amor eterno te amei; com benignidade te atraí.
(Jeremias 31:3)

Hoje sei que meu lugar não é no julgamento alheio, mas no colo da Graça.

Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas... mas um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.
(Hebreus 4:15)

Jesus me encontrou.
Jesus me convidou.
Jesus me aceitou.
E eu aceitei segui-Lo.

Ele me chamou pelo nome.
Ele me conhece como sou.
E me ama como ninguém jamais amou.

Se você também carrega feridas causadas por interpretações erradas, ou se sente excluído por ser diferente, escute isso com o coração:

Ainda que uma mãe se esqueça do filho que amamenta, eu jamais me esquecerei de ti.
(Isaías 49:15)

Jesus não rejeita quem é sensível.
Jesus não exige que você seja o que não é.
Jesus só pede uma coisa: “Vem”.

E eu fui.
Autista.
Filho.
Servo.
Discípulo.

Do jeito que Deus me criou.
Com a mente que Ele me deu.
Com a sensibilidade que Ele transformou em dom.

Porque o amor de Deus não exige performance. Exige entrega.
E às vezes, a entrega mais bonita... é o silêncio de quem confia.
E Jesus entende esse silêncio melhor que ninguém.

Se esse texto falou contigo, compartilhe com alguém que precise ouvir:

Jesus não exclui. Ele chama.


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Por Vilmar Francisco de Oliveira

Filho de pastor • Diácono IPRB • Músico AD • Escritor • Autista (SA) • Cristão fora da caixinha, dentro da Graça

Blog: Mundo Atípico TEA


Vilmar com a Bíblia


O convite de Jesus Cristo
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Comentários

  1. Que texto lindo...quanta sensibilidade. Você tem o dom das palavras. Mais um né? Parabéns.

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